A ideia da falência do Estado como gestor da sociedade e da vida privada e a ascensão das corporações como grandes potências do poder não é nova. Autores como Isaac Asimov (diversas obras magníficas), George Orwell (1984 e Revolução dos bichos – 1948), Frank Herbert (Duna – 1965), Philip K. Dick (Blade Runner – 1982), Willam Gibson (Neuromancer – 1984), já visualizavam esse futuro.
Obviamente são visões romantizadas em ficções científicas. Contudo puderam de certa forma prever o que viria a acontecer, ou o que já estava acontecendo.
Tradicionalmente, temos conceituado empresa como “atividade econômica organizada de produção ou circulação de bens ou serviços e, sendo uma atividade, a empresa não tem natureza jurídica de sujeito de direito nem de coisa” (Fábio Ulhoa Coelho).
Ou seja, empresa é atividade exercida pelo empresário ou pela sociedade empresária que, de forma organizada, por meio do capital e do trabalho explora, com fins lucrativos, atividade produtiva de qualquer natureza.
Ocorre que a empresa (corporações) com o advento da tecnologia e dos modelos de negócios a exemplo das startups deixaram de ser meramente organizações com fins puramente econômicos.
A tecnologia tornou muitas atribuições humanas obsoletas e a busca pela felicidade é protagonista, tomando o lugar da necessidade de trabalhar para ganhar dinheiro e se sustentar.
Portanto, diferenciar a atividade empresária ou não empresária pelo aspecto técnico de atividade econômica está paulatinamente se tornando equivocado. Uma atividade empresarial pode ter grande impacto na atividade econômica em escala global, sem ter lucro e sem ter como foco uma real atividade econômica, mas estando ela em segundo plano. Podemos exemplificar com a SpaceX, com o desenvolvimento de foguetes que “dão ré”. Agora a atividade econômica de vender serviço de internet é secundário.
Essa mudança tecno social tem como consequência a mudança de todo o modelo de gestão humana e social e a empresa tem um papel central.
Observe que, no conceito tradicional de empresa apresentado, temos como elementos o capital e o trabalho. Porém, com o advento da tecnologia, inteligências artificiais e mecanização, o valor do trabalho nessa equação está cada vez menor.
Obviamente que o “trabalho” intelectual, científico e artístico são os que gozem de maior perenidade. Todavia, com tantas IAs que criam arte, aprendem e criam algoritmos e auxiliam na pesquisa científica, quanto tempo nosso “trabalho” ainda terá valor?
Empresas não representam mais produtos, serviços ou dinheiro. Empresas representam sonhos e valores. Elas têm uma importante função social que deve ser exercida. Isso explica empresas como a UBER, Whatsapp e outras serem gigantes que não lucram (ainda) e vários ambientes como o Vale do Cilício e a China como um todo, onde se buscam soluções inovadoras.
As empresas são solucionadoras de problemas, esse é o seu papel, e as que não tem essa visão poderão ver seu fim, ainda que gerem lucro. As pessoas e os mercados querem mais do que lucro querem o futuro.
Pedro Paulo e Silva Freire. Advogado, graduado em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco, especialista em Direito Civil e Empresarial pelo IBMEC, presidente da Regional Acre da Associação de Direito de Família e Sucessões, presidente do Instituto Mercosul Amazônia (IMA).
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